Os números de consumo global de vinho são um bom exemplo de trabalho numa área que pode nem sempre ser fácil. Quando se pensa que já se comunicou tudo, há sempre um novo ângulo.
Não existe, portanto, um maior volume de comunicação, mas sim boa comunicação, com sentido.
Parte 1
Espaço de comunicação
Gradualmente começámos a ver o espaço de garrafeira dos supermercados a aumentar, as publicidades de rua a aparecer mais frequentemente e assistimos a um culto de feiras e eventos, além das provas nas tradicionais garrafeiras de rua ou a simples apreciação de um bom copo de vinho num fim-de-tarde na esplanada.
Lá fora, o vinho português é cada vez mais uma das agradáveis surpresas do “Velho Mundo”, a experimentar e a não perder. Esta é a prova de que o público está mais informado e, em simultâneo, que o vinho é uma forma de estar mais social, exigindo informação detalhada e gerando enorme curiosidade técnica (aromas, sabores, harmonizações gastronómicas, entre outros).
Democratização
A capacidade de apreciação foi democratizada e consumidores – hoje de todas as idades, com uma agradável incidência sobre gente cada vez mais jovem – sabe que há grandes vinhos que merece a pena provar, mas que também há excelentes exemplares a cinco euros.
E se na realidade estes últimos são os preços praticados em 80% do mercado, isto significa que existe aqui um ainda grande desafio em termos de comunicação que se prende em como comunicar e com quem comunicar.
Estes dois pontos resumem bastante a realidade que se vive e o primeiro passo para que a comunicação seja bem-sucedida é não pensar somente nas feiras e prémios.
Certo que também é preciso enaltecer estes feitos e os comunicados de imprensa continuam a ser uma das ferramentas da comunicação por excelência, mas toda a experiência do vinho é muito sensorial. Como tal, merece que se conte a história com toda a pompa e circunstância (storytelling) utilizando, por exemplo, vídeo ou um blog corporativo.
Mas não se trata de inventar (muito menos relativamente a um vinho, cuja prova repõe imediatamente a verdade dos factos), trata-se antes de contar uma história honesta mas de uma forma envolvente e convincente.
Parceiros, consumidores e jornalistas têm pouco tempo a perder, mas com certeza gostarão de uma história real que lhes ponha um sorriso nos lábios ou os faça pensar em determinado ponto de vista que lhes poderá passar despercebido na correria do dia-a-dia. O consumidor também gostará.
Já dizia Jancis Robinson, umas das maiores críticas de vinhos a nível mundial: “a maturidade e gestão dos taninos é tão importante como o real nível de taninos”.
Nós arriscamo-nos a pegar nesta sua sábia frase e a dizer que a comunicação é como os taninos: mais do que o seu nível real, interessa a sua maturidade e a forma como é gerida e realizada.
Parte 2
O vinho está na moda.
… mais do que o seu nível real, interessa a sua maturidade e a forma como é gerida e realizada.
Assim terminou a primeira parte deste artigo e assim começa a segunda parte do mesmo. Porém nesta parte o foco estará direcionado para a comunicação digital no sector vitivinícola onde “todos estão”. Mas será que todos sabem estar?
O vinho está na moda e isso ninguém pode negar.
Uma nova classe de consumidores floresce a cada novo encontro vinícola – são os chamados winelovers, jovens dinâmicos que até podem não saber identificar se um vinho tem taninos fortes ou notas florais mas que se interessam sobre estes pormenores e, acima de tudo, se o mesmo sabe bem e quanto custa. Não é preciso muito para se perceber que estes winelovers na partilha das suas experiências estão a tornar o consumo de vinho em algo completamente social.
Não há produtor, casa, herdade ou quinta que não esteja representada no Instagram, Facebook, Adegga ou na app Vivino certo? Bem, a resposta mais óbvia seria, “certo, porque quem não está é como se não existisse”. E é aqui que reside uma parte do problema da comunicação digital: queremos estar em todas as plataformas e utilizamos o mesmo tipo de linguagem para todas elas.
Tornou-se mais simples atualizar uma página no Instagram com uma fotografia das vinhas ao amanhecer do que perder tempo a atualizar um website com os novos vinhos disponíveis no mercado. Quem o consegue está seguramente um passo à frente da concorrência e com tantos meios torna-se urgente saber como estar em cada um delas.
Vejamos o caso da votação dos melhores vinhos do mundo para a Wine Spectator de 2022. Portugal conseguiu este ano colocar um dos seus vinhos no top 100 da conceituada revista norte-americana. Em poucos minutos as redes sociais foram inundadas por posts sobre esta nova conquista e daí para a imprensa e para os noticiários televisivos.
Hoje, mais do que ontem, o vinho é um tema social e que merece a atenção de todos. Mas até que ponto as marcas olham para as novas plataformas como uma forma de estar próximo dos seus consumidores? Até que ponto a opinião de winebloggers é vista como uma nova ferramenta de comunicação?
Se olharmos para o crescente número de publicações conseguimos identificar uma maior preocupação das marcas em serem faladas, existem bons winebloggers, bons winelovers e bons enófilos em Portugal, há que reuni-los em torno do seu vinho.
A comunicação digital deve ser planeada, trabalhada e executada num todo. Nenhuma das partes deve ser descurada só porque não atingimos o alcance desejado ou porque não conseguimos um sem número de likes no nosso post. É necessário manter a comunidade atenta e curiosa com temas que se adequam a cada plataforma, e acima de tudo, criar uma ligação com os mesmos em todas elas.
Certamente que a esta hora vozes se elevam e afirmam que as redes sociais são o presente e futuro de toda a comunicação interpessoal. Outras, talvez mais cépticas, afirmarão que a comunicação tradicional é aquela que mais impacto tem para as marcas. As duas complementam-se e a verdade é que nunca se ouviu falar tanto dos nossos vinhos como nos dias que correm.
Há muito que se produz vinho no “Velho Mundo” e a qualidade sempre esteve presente de Norte a Sul de Portugal. Seja pelo enoturismo ou pelas medalhas arrecadadas nos diversos concursos mundiais, os nossos vinhos estão nas bocas do mundo e a comunicação digital é, em grande parte, um potenciador deste momento, se não o fosse, nunca teríamos conseguido ser novamente uma das Best Wine Region To Visit. …mais do que o seu nível real, interessa comunicar e gerir a sua comunicação com a maturidade necessária para cada plataforma.