Mas se queremos aumentar a nossa criatividade, precisamos de um conceito claro sobre o seu significado. Vejamos então quem “inventou” a criatividade, em que é utilizada e de que forma está ligada à nossa personalidade.
Antigamente a criatividade não existia. Os Antigos Gregos acreditavam que as ideias surgiam através dos demónios, forças externas vindas dos deuses, que influenciavam a vida de todos, para o bem ou para o mal. Mesmo os melhores pensadores do tempo de Homero, Platão e Sócrates, atribuíram a fonte de suas ideias aos demónios – eles não eram criativos por si próprios. Na verdade, os Antigos Gregos não tinham capacidade para atingir a criatividade. A nossa interpretação moderna só surgiu no Renascimento e no foco do “homem” como centro do conhecimento, iluminação e inspiração.
O conceito moderno da criatividade envolve quadros, música, teorias científicas, literatura e ideias. Os resultados da criatividade podem ser tanto um objeto ou algo intangível, mas deverá ser novo e ter algum valor. As imitações de grandes obras de arte têm valor, uma vez que são bonitas, mas como não são novas, não são criativas.
Como o valor pode ser subjetivo, às vezes leva a argumentos, como por exemplo, o debate sobre a arte de Jackson Pollock:
Os inimigos Filisteus da arte moderna dos anos cinquenta, iriam olhar para o Pollock numa revista e dizer: “O meu filho poderia fazer isso” esquecendo-se do facto que Pollock era um “génio” que mudou a forma como as coisas foram feitas, porque ele tinha uma nova ideia de como fazer as coisas: ele substituiu a pincelada com o “gotejamento”.
Ao escrever na Psychology Today, Sandeep Gautam argumenta que existem quatro elementos para a criatividade – utilidade, novidade, beleza, e a última é chamada de “veridicality” (veracidade). Isto atrai um aspeto que, não importa o que foi criado, desde que seja verdade ou reproduzível. Nomeadamente, algo como uma teoria que possa ser nova, útil e elegante, mas se não é verdade, não nos leva a nenhum entendimento e não será criativa.
Eu argumento que a beleza é uma parte da utilidade, no seu sentido verdadeiro – uma falsa teoria científica não tem muita utilidade mesmo se for útil. Para o bem da utilidade, vamos dizer que a criatividade precisa de dois critérios principais – novidade e utilidade.
A criatividade é o processo de ter ideias originais que tenham valor. É um processo; não é aleatório. – Kevin Robinson
OK – nós andamos à volta do conceito da criatividade, mas como o medimos? Felizmente, a área da criatividade é um tema que deve ser estudado por cientistas, que precisam de quantificá-lo para ver a correlação com as outras características humanas como a intelectualidade, educação, emoção e atitude.
Para aceder ao seu nível de criatividade, os cientistas diferenciam o potencial da criatividade – se as pessoas conseguem desenvolver uma ideia inovadora; e a realização criativa – se eles conseguem realmente implementar a ideia no mundo real. No estudo, The relationship between intelligence and creativity, os seus autores Emanuel Jauk, Mathias Benedek, Beate Dunst e Aljoscha C. Neubauer afirmam:
A Criatividade é normalmente avaliada por diferentes níveis conceptuais. Uma das distinções mais genéricas a serem feitas é aquela entre o potencial criativo em oposição à realização criativa (Eysenck, 1995). O potencial criativo refere-se à capacidade do indivíduo para gerar algo novo e útil (Sternberg & Lubart, 1999) e reflete um traço normalmente distribuído (Eysenck, 1995). Por sua vez, a realização criativa refere-se à realização efetiva desse potencial em termos de realizações da vida real (tais como fazer uma descoberta científica, escrever um romance etc.; cf., Carson, Peterson, & Higgins, 2005).
O Potencial Criativo é medido pelo Pensamento Divergente – a capacidade de desenvolver múltiplas soluções para um problema. O pensamento divergente é uma forma-livre, um tipo criatividade por associação – por exemplo pensar sobre quantos usos terás para um tijolo de uma casa: segurar um aporta, arma, alvo de karate, base para fazer step, vaso, âncora, etc. Quantas mais ideias, melhor, desde que sejam válidas.
O segredo para a criatividade é conhecer como esconder as suas fontes. – Desconhecido
Provavelmente já jogou aos jogos de associação de palavras, onde cada pessoa terá que dizer uma palavra relacionada com aquela que o outro jogador disse. Qualquer atraso ou repetição, significa que já perdeu. O nosso nível de criatividade é compreendido por conectar esses conceitos divergentes. Os psicólogos acreditam que esses conceitos estão armazenados numa ‘rede semântica’ no cérebro. As pessoas com redes semânticas ‘fixas’ formam inúmeras conexões soltas e por isso são tipicamente mais criativas do que aquelas com redes ‘íngremes’ que acham alguns jogos desafiadores. Acredita-se que o pensamento divergente pode ser aumentado através da meditação, mantendo um diário, arte e técnicas de brainstorming associativas.
Existem testes para o potencial da criatividade ou para o pensamento divergente, que observam os números destas áreas. Aqui fica um, se quiser experimentar. Se quiser tenho mais 76 testes.
A segunda área mensurável de criatividade é a Realização Criativa. Isto é geralmente avaliado através de exemplos de auto-relato de realização criativa – livros escritos, música composta, trabalhos científicos publicados. O Questionário da Realização Criativa observa dez áreas – artes visuais, música, dança, design arquitetónico, escrita criativa, humor, invenções, descobertas científicas, teatro e cinema, artes culinárias.
Para a maioria de nós, o nível pode ser um pouco alto se estivermos a olhar para o número de patentes, números ISBN, pautas musicais ou guiões de filmes com o nosso nome. Mas o princípio é o mesmo para a criatividade do dia-a-dia. Quantas das nossas ideias são realmente implementadas em vez de serem esquecidas no quadro?
A combinação destes testes liga-se diretamente à nossa definição da criatividade. O potencial criativo olha para a nossa capacidade de criar inúmeras ideias novas, e a realização criativa olha para o valor dessas ideias (já que não queremos realizar ideias inúteis). Se quer ser visto como um criativo, precisa de abraçar o pensamento divergente, desenvolver inúmeras novas ideias e fazer com que as mesmas se realizem. E o que pode ser mais divertido do que isso?
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